Sérgio Almeida/JN
Mais de 500 anos depois da revolucionária criação de Johannes Gutenberg que permitiu a difusão do saber a uma escala nunca vista, o livro teima em resistir. E apesar de muitos especialistas encararem o digital como uma ameaça à sua sobrevivência, as tecnologias têm sido, no que ao processo produtivo diz respeito, um aliado precioso na renovação do setor.
Por isso, encontrar pontos de contacto entre os primórdios e os tempos presentes é missão condenada ao fracasso. Mas nem será preciso recuar tantos anos para percebermos o impacto das mudanças.
No início da década de 90, quando Lopes de Castro, de saída das Edições ASA, onde ocupava o cargo de diretor-geral, resolveu abrir uma gráfica especializada em livros, a Norprint, o digital era ainda um cenário distante. “Na altura estávamos a tentar começar a perceber o que era o Macintosh”, afirmou ao JN o administrador da gráfica, sediada em Santo Tirso, durante uma visita às suas instalações.
Já na altura, porém, o futuro estava ao virar da esquina, pelo que este licenciado em Gestão teve que ouvir das boas quando informou os amigos do seu projeto. “Estamos ainda a aprender a viver com as tecnologias”, assevera.
De então para cá. (quase) tudo mudou. Novas máquinas entraram, métodos seculares caíram em desuso e profissões inteiras foram extintas (fotocompositor ou montador, só para enumerar algumas). “Hoje, o grau de dificuldade tem que ver com o aumento do nível de exigência. Os prazos são mais curtos e tudo tem que correr bem, desde o abastecimento das matérias primas até à produção. Qualquer falha é fatal”, defende o responsável.
Fazer um livro em 24 horas
Da entrega dos ficheiros por parte dos editores, à produção das chapas, passando pela impressão e acabamento, o objeto livro percorre uma série de etapas que, todavia, devido ao ‘milagre’ tecnológico, podem ser cumpridas em 24 horas.
A exigência extrema associada ao processo ajuda a explicar por que é que o setor gráfico português, apesar do ‘dumping’ chinês e de ainda apresentar uma produtividade abaixo da média europeia, já exporta para todo o Mundo. África, Brasil (como a prestigiada editoraCosac Naify) ou Norte da Europa são apenas alguns dos mercados para onde a empresa tirsense exporta perto de 40% da sua produção.
As vantagens da exportação não se limitam a reduzir a dependência face ao mercado português. Acima de tudo, o contacto com empresas de outras paragens e culturas permite um reforço do profissionalismo para que seja possível responder de forma satisfatória às necessidades de cada cliente.
“Não podemos comparar o mercado português com os dos nossos vizinhos. Infelizmente, o setor do livro ainda não tem expressão nos PALOP. Por outro lado, não é fácil, com exceção dos clássicos, entrar no Brasil. Isso dar-nos-ia outra escala”, defende.
Um setor de peso
Dois mil milhões de euros é quanto vale o setor das artes gráficas. Um número impressionante, superior até ao de áreas tradicionais como as conservas ou o azeite, mas que deve ser relativizado, porque esta área, apesar de mais associada aos livros e às revistas ou jornais, abrange também os rótulos ou as embalagens, entre muitos outros. “Se não existisse o setor gráfico, os supermercados seriam uma confusão”, afiança o CEO da Norprint.
Para acompanhar as vertiginosas mudanças em curso, é imperioso um investimento significativo em máquinas. Com um ciclo de vida cada vez curto, estes equipamentos têm no software a sua necessidade mais premente de atualização. Mas, além do custo de aquisição elevado, as máquinas também permitem uma poupança significativa, sobretudo nos recursos humanos.
É o próprio responsável máximo da Norprint e presidente da Associação Portuguesa de Indústrias Gráficas quem o reconhece, dizendo que “sem a digitalização, o número de funcionários necessários seria provavelmente o dobro”.
O digital é uma realidade omnipresente. A pensar no amanhã cada vez mais próximo, a empresa está atenta aos sinais de mudança: vai a feiras internacionais e interpreta as mudanças, incorporando-as no seu processo. Mas não só. A Norprint já criou também uma firma totalmente digital para que, quando chegar a altura, possa responder de forma convincente. “Adaptamo-nos a qualquer cenário”, reforça Lopes de Castro.
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