terça-feira, 5 de julho de 2016

Da capa: um trabalho de tradução

Uma interessante entrevista com um respeitadíssimo director de arte. 


Uma capa é sempre uma falha

Estudou e tocou piano profissionalmente até perceber que não ia conseguir ganhar a vida como músico. Doze anos depois, continua a tocar, mas Peter Mendelsund tornou-se reconhecido como director gráfico da Alfred A. Knopf que publica Sebald, Kafka, Martin Amis ou Jonathan Franzen.
Peter Mendelsund diz que faz capas de livros porque falhou como músico. “Acho que se tivesse tido sucesso provavelmente continuaria a tocar piano. Eu costumava tocar piano”, diz o autor de quase mil capas de livros em mais de doze anos de trabalho para a chancela Alfred A. Knopf, editora do grupo Penguin Random House. A conversa acontece na sua sala de trabalho, num andar alto do edifício no número 1745 da Broadway, em Nova Iorque — sede do grupo nos EUA — menos de duas horas depois de se saber da morte de Prince. Além da consternação geral que a notícia provocou há uma interrogação difícil de pronunciar e que diz respeito àquela casa com qual o músico assinara semanas antes um contrato para a publicação das suas memórias. Estarão escritas? Serão escritas? Não é assunto que faça parte das funções de Peter Mendelsund enquanto director de arte da Knopf. Desde que desistiu do piano como instrumento de trabalho, continua a tocar diariamente e a admirar o génio de Glenn Gould, mas o seu trabalho é ler livros e pensar em como sintetizá-los numa imagem que lhes faça justiça. É assim que se descreve profissionalmente, como “um leitor que tenta interpretar o que lê o melhor possível”.
Peter Mendelsund é autor de quase mil capas de livros em mais de doze anos de trabalho para a chancela Alfred A. Knopf, editora do grupo Penguin Random House
É uma referência na edição e o que faz rapidamente passa a ser modelo a seguir por designers em todo o mundo. “Veste”, como gosta de dizer, a escrita saída da cabeça e das mãos de gente como Julio Cortazar, Franz Kafka, Sebald, James Salter, Thomas Bernhard, o português Antonio Damásio, Martin Amis, Tom McCarthy ou Camille Paglia. Essa escrita é visualmente traduzida por Mendelsund num processo que descreve como derrotado à partida. “Sempre soube que ficaria insatisfeito com qualquer capa que pudesse desenhar para a obra de arte jazzy, melancólica, metaficcional que é Hopscotch [título em inglês de Rayuela], de Julio Cortazar”, escreve em Cover, uma monografia do seu trabalho publicada em 2014 — em simultâneo com O Que Vemos Quando Lemos (Elsinore, 2015), onde fala e desenha sobre a sua experiência como leitor. Ainda em Cover, sobre essa ideia do falhanço à partida que é qualquer capa, explica: “Cada escolha de cor, cada decisão tipográfica, cada divisão de espaço e cada enxerto pictórico — cada passo é um passo para a concretização de um livro e portanto para o seu empobrecimento. A minha função é arrastar o texto, o trabalho do autor, perfeito na sua desencarnação, para uma especificidade horrível. A um ponto tal que, não importa o quão bem tenha feito o meu trabalho — não importa como a capa possa estar bonita — tenho sempre um sentimento de perda”.
“É verdade”, refere agora, óculos pousados sobre a folha branca que parece conter a intensidade filtrada da luz de início de tarde. É ali que trabalha. “Tenho um emprego”, sorri, depois de se lhe perguntar se o estatuto lhe permite escolher os livros “que lê”. “Trabalho aqui na Knopf, mas também faço trabalho de freelance para outras editoras e sou muitas vezes chamado para trabalhar em coisas que me pareçam interessantes. Nesse caso, se não forem não as faço. Mas aqui faço o que tenho de fazer e não há escolha. Muitas vezes trabalho em coisas em conjunto com o autor. É como ser jornalista. Dão-nos uma história e algumas revemo-nos nela, noutras não, mas damos o nosso melhor. Sei que isto pode parecer estranho, mas leio muito lixo. Histórias de amor que se escrevem depressa e mal, e se lêem num instante; mistério, fantasia, terror, crime, ficção científica barata, mas também grandes versões de todos esses géneros, e grande literatura e crítica. Há sempre alguma coisa para gostar num livro. A excepção é quando encontro alguma coisa que politicamente ou eticamente me repugna. Aí digo não, que não posso ter qualquer tipo de intervenção no sentido de ajudar a que aquilo saia para o mundo.”
Está rodeado de livros que marcam a evolução do que tem feito. O que se vê ali reconhece-se das livrarias, das páginas de suplementos literários. É o que tem feito desde o dia em que se candidatou a um emprego que achou que não ia conseguir manter por mais de um mês. Uma decisão vinda da necessidade e de uma reunião com a mulher que começou com uma lista, a de coisas que era capaz de fazer além de tocar piano. Jogar à bola, escrever, ler, desenhar. Conta que tinha desenhado os convites para o seu casamento e gostou. Decidiu aprender mais. Investiu tempo nisso, menos do que no piano, e chegou à Knopf onde lhe foi pedido para fazer a capa de Chopin’s Funeral, livro de Benita Eisler. Seria a primeira das suas capas. “O desenho de capas não é uma coisa estanque. Estou sempre à procura de alguma coisa que nunca tenha sido feita”, adianta, como se essa ausência fosse também literária, como os silêncios por preencher de um romance. É preciso encontrar a imagem, como a palavra, ou então deixar em branco num exercício que convoca e desafia a liberdade o leitor. À frente tem um livro de W. G. Sebald. Está a escrever um artigo sobre a sua relação com a escrita do autor de Os Emigrantes para a Harper’s Magazine, sobre como foi lê-lo e construir uma capa que reflectisse essa experiência.
“Quando eu era pianista e tocar piano não me pagava as contas, eu trabalhava numa livraria que agora já não existe. A Susan Sontag costumava ir lá muito. Ela era uma grande entusiasta de Sebald e estava sempre a dizer-nos que o tínhamos de ler. E eu li Os Emigrantes. Foi o primeiro. É muito difícil explicar a alguém que nunca tenha lido Sebald porque é que ele é tão extraordinário e lê-lo é uma experiência tão especial. Não há muita coisa a acontecer, ele anda às voltas, tudo está relacionado com refugiados da II Grande Guerra; há muita tragédia, mas ele nunca fala disso directamente, e há muita obsessão, como se cada livro fosse o mesmo, e sempre de uma forma interessante. E os seus livros, de alguma forma, representam-nos, a nós, através de um imaginário visual.” Vestir um livro de Sebald não é, por isso, como vestir a maioria dos livros. “Há neles fotografias, e há qualquer coisa sobre a forma como essas fotografias actuam no leitor de Sebald. Elas desestabilizam-nos; estamos a ler e constantemente a questionar-nos se estamos perante ficção ou não ficção, sobre o que é aquilo. As fotos são reais, mas não reais no modo como ele escolhe posicioná-las no livro; ele torna-as ficcionais em toda a ideia de que as imagens representam coisas, no sentido em que as mapeiam, e tudo se torna muito confuso. Gosto muito disso nele. Lemos o livro e temos uma espécie de noção do que ele está a tentar atravessar. E talvez seja uma imagem ou talvez não; pode ser linguagem pura, mas eu, numa capa, tenho de dizer isso de forma límpida, dizer como é que isso se parece. A minha questão é: como posso tornar isso visualmente reconhecível para outra pessoa?”

O tradutor

O trabalho de Peter Mendelsund é também por tudo isto um trabalho de tradução. De uma linguagem para outra. De um modo extenso para outro simbólico, metafórico. “Passar a palavra para a imagem também é isso”, continua. “Na leitura surge uma imagem, uma espécie de momento epifânico em que vemos o que o livro é, depois é preciso fazer essa tradução activa.” É o momento da execução ao longo do quando, no entanto, permanece sem resposta para a pergunta que formulou, sem ponto de interrogação, no título do livro O Que Vemos Quando Lemos. É um exercício sobre a fenomenologia da leitura. Há pouco mais de dois anos recebi um e-mail a perguntar-me se eu estaria interessado em fazer uma monografia do meu trabalho de designer. Aceitei e deram-me oito ou nove meses para o fazer. Tinha de recolher imagens e escrever dois ensaios. Não era complicado, e nasceu Cover. Mas quando terminei fiquei muito aflito. Porque é que alguém haveria de estar interessado neste livro? Além disso achei que representava apenas um lado do que eu fazia. Não me representava enquanto leitor e ocorreu-me que se pudesse representar o meu lado de leitor isso ajudaria o outro livro a vender e vice-versa. Recuperei então um pequeno post que tinha no meu blogue sobre uma conversa o com um amigo acerca de ler e imaginar e pensei que podia transformar aquilo em alguma coisa. Consegui vender a ideia e tive sete meses para a escrever. Dessa vez era muito pouco. Nesse livros não há muitas palavras, mas o resultado da elaboração de um pensamento. O meu acerca do que a leitura me suscita”.
A descrição de um rosto, de uma paisagem; o desenrolar de um enredo. O modo como isso gera imagens a a ilusão de que gera imagens. Vemos quando lemos? O que? Não será que apenas imaginemos que vemos quando lemos? “Tudo isto é muito confuso. Os neurocientistas tentam explicar, e os filósofos da cognição. Ler sem imagens é possível? É muito complicado falar disso. Podemos simplesmente dizer que vemos imagens nas nossas mentes e alguém pode facilmente dizer que talvez apenas imaginemos imaginar imagens e chegamos a um ponto em que já nada perece definido. Enquanto leitor já estive próximo de um sentimento de experimentar apenas significado em vez de imagens”, diz sobre o desafio que é a sua pergunta-resposta no título do livro onde expõe a sua intimidade enquanto leitor. “Sim, tudo o que se passa no processo de leitura é muito íntimo”, concede, acrescentando: “Não há uma experiência de leitura igual, e muitas vezes o modo como a tentamos comunicar passa por clichés. Isso, como designer assusta-me. Não quero cair no cliché, na repetição de fórmulas fáceis para comunicar um livro. Nem aqueles escritos para serem best-sellers.”
Estamos sempre na leitura. É aí a génese do trabalho de um desenhador de capas que nunca é, no entanto, o primeiro leitor de um livro, mas que, como afirmou o escritor Tom McCarthy justamente sobre o trabalho do criador de capas, é o “mais radical” e um dos fundamentais. “Os designers de capas lêem livros da mesma forma que os adivinhos lêem folhas de plantas ou entranhas”, escreve o romancista inglês na introdução de Cover, acrescentando que “são como fenomenologistas, envolvidos no acto de desenhar de forma lírica e penetrante, de fazer manifestos”.
Como passar um rosto de um clássico? “Nunca o representado tal como vem descrito”, responde, sabendo que o que ele vê numa descrição não é o que outro leitor vê. Por isso escreve em O que Vemos Quando Lemos: “…qual é a aparência de Anna Karénina? É possível sentir que conhece intimamente uma personagem (as pessoas gostam de dizer, em relação a uma personagem muito bem descrita, ‘é como se a conhecesse’) sem que isso signifique que está de facto a visualizar uma pessoa. Nada tão firme; nada tão total.” É por isso que a capa falha sempre, como referiu dando o exemplo de Rayuela? “A função da capa é vender o livro e representá-lo de forma adequada. Não há uma fórmula para o fazer. A criatividade está nisso”, começa por responder com a rapidez de quem já teve tantas vezes de pensar e responder a uma pergunta semelhante, mas sem manifestar enfado, tentando novos exemplos, indo buscar estímulos. “Adoro Kafka e toda a obra dele na América tem capas horríveis. Não sei porquê. Percebi que os Aforismos dele não estavam reunidos numa edição aqui e propus isso, que o fizessem, desenharia uma capa.” O sucesso do pequeno livro — cuja capa se inspira no abstraccionismo que marcou o trabalho de outro director gráfico Alvin Lustig, famoso designer de capas das décadas de 40 e 50 — levou a Knopf a reeditar a obra do autor checo com todas as capas da autoria de Mendelsund. Elas estão e destaque na sala da Broadway como imagem de marca. Da casa e do designer. “Fico sempre surpreendido com o facto de uma ideia minha ter adesão. Porque nasce dessa coisa íntima”, salienta, “nasce de uma busca constante, pessoal, e nisso lembro sempre as palavras de Cortazar que cito em Cover.” São mais ou menos assim: “Percebi que a procura era o meu símbolo, o emblema daqueles que saem à noite sem nada na cabeça, a motivação de um destruidor de bússolas.” Quando uma fórmula é bem sucedida torna-se enfadonha e passa-se outra vez ao desconhecido, ao silêncio da literatura.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Notas finais

SÉRGIO PEREIRA LAVOS - 19
JOÃO LUÍS FERNANDES FERREIRA - 18
ANA RITA FERREIRA DUARTE - 
FERNANDINA ROSIELLO – 18
PATRÍCIA RODRIGUES DA BERNARDA GOMES RAMOS - 16
RAQUEL CORREIA DA SILVA - 18
ANNAMÁRIA GAÁL - 18
ANA MAFALDA ANTUNES CARVALHO - 17
FILIPA ALEXANDRA DA COSTA LAVRADOR – 16
GISELLE GOMES PEREIRA - 17
SARA ISABEL QUINTELA AGOSTINHO – 19
JOÃO MIGUEL VIEIRA ALVES - 17
ANDREA FILIPA DIAS MADRUGA - 17
DIOGO MANUEL DE FREITAS TELLECHEA - 17
CAMILA DIAS DA CRUZ - 17
CATARINA ABOIM DE BARROS SABINO - 17
ANGELINA LOUREIRO PEREIRA - 18
MANUEL JOSÉ PIMENTA DE OLIVEIRA CARAMELO - 17 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Um editor é isso: alguém cego, míope, ocasionalmente lúcido

OS LIVROS DE MANUEL VALENTE

Entrevista no Notícias Magazine, ou seja, aqui
Manuel Valente
Entrevista de vida ao diretor editorial da Porto Editora, um orador brilhante que dedicou a vida aos livros. E às mulheres.
Devemos-lhe a publicação em Portugal de títulos icónicos como A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, ou de O Velho Que Lia Romances de Amor, de Luis Sepúlveda. No fecho da Feira do Livro, Manuel Alberto Valente, diretor editorial da Porto Editora, recusa alimentar a polémica com Zeferino Coelho, da Caminho, sobre Saramago, e prefere falar do papel do editor: servir de filtro entre o que se escreve e o que merece ser publicado. 71 anos de vida, mais de trinta de carreira, e a certeza de que o livro, tal como o conhecemos, sobreviverá.
A entrevista decorreu entre livros – todos os que publicou na Porto Editora, os que diariamente lhe chegam do estrangeiro e os originais, que aguardam sentença na secretária – e fotografias. Duas horas de conversa, entre cigarros e temas que lhe são caros: o risco, o atrevimento, a paciência, a poesia, o futebol, as viagens, as mulheres, «desde sempre o mais importante». Manuel Alberto Valente, «adolescente adiado», nasceu em Coimbrões, Vila Nova de Gaia, em 1945. Vive em Lisboa desde os 20 anos, no mundo da edição, há mais de três décadas.
Que papel tem um editor hoje?
O mesmo de sempre: servir de filtro entre o que se escreve e o que merece ser publicado. Sabemos, é claro, que nos últimos anos a situação mudou bastante. Um teórico destas coisas disse até que se estava a caminhar para uma edição sem editores. E há, de facto, hoje, a chamada autoedição – em suporte digital, cada um pode publicar o que quiser. O que provoca, claro, o aparecimento de lixo, muito lixo. Falta à autoedição o olhar crítico do editor. Que é também quem, muitas vezes, ajuda o autor a cinzelar o próprio trabalho.
Nos últimos anos, o centro da edição deslocou-se, portanto, do autor para o leitor. O editor perdeu muito poder?
A grande mudança dos últimos anos tem que ver com isso. Há 30 anos, os editores procuravam autores. Com a criação dos grandes grupos editoriais e da chamada indústria editorial, a edição começou a procurar o que o leitor quer ler. E porque o que o leitor quer ler nem sempre é o melhor, o nível da edição baixou.
Publicar autores e obras que surpreendam o leitor. Hoje, o fator surpresa já não é uma prioridade. Pelo contrário?
Nos anos 1980, quando iniciei, na D.Quixote, a minha carreira, propusemos ao leitor português autores completamente desconhecidos, que são hoje nomes incontornáveis. Passadas umas semanas, poucas, sobre a publicação de A Insustentável Leveza do Ser [Milan Kundera], a expressão «insustentável leveza» entrou nos hábitos quotidianos dos portugueses. Todas a usavam, do Parlamento aos jornais. E, de repente, havia a convicção de que estávamos a dar qualquer coisa de novo ao país. E era um orgulho. Isso mudou radicalmente. Hoje, o editor, sobretudo o dos grandes grupos, está muito condicionado pelo share.
Entristece-o?
Eu tenho boa boca, como se costuma dizer, mas reconheço que não dá o mesmo prazer. Descobrir novas vozes e novas maneiras de dizer as mesmas coisas dá muito prazer.
De que caraterísticas essenciais é feito um bom editor?
Em sentido clássico, tem de ser um grande leitor. Tem de ter uma cultura geral elevada, que lhe permita integrar e compreender o que lê. Tem, também, de estar muito bem informado, e para isso tem os jornais, as feiras, as revistas literárias. E tem de ser capaz
de não aplicar apenas o gosto pessoal, sabendo reconhecer qualidade a obras de que porventura goste menos.
Um original apadrinhado?
A minha longa experiência diz-me que é muito raro aparecer um original anónimo com qualidade. Os que têm alguma qualidade chegam, em regra, apadrinhados. Por um outro escritor, por um jornalista, por alguém do meio. Os textos anónimos, salvo raríssimas exceções, são muito carentes de qualidade e chegam de pessoas convencidas de que um romance se resume a contar uma história em meia dúzia de palavras.
Confronta-se com muito desplante?
Algum. Há pouco tempo, recebi um original de alguém que afiançava que o seu livro tinha todas as condições para ser um êxito e que iríamos todos ganhar muito dinheiro. Quando se leu o original, verificou-se que era um texto quase infantojuvenil, uma cópia sem qualidade de centenas de livros de aventuras.
Encontra razões para essa falta de consciência autocrítica?
É muito curioso, conheço autores, ou pretendentes a autores, que dizem coisas do género: «Sabe, eu quero escrever, não tenho tempo para ler.» E eu espanto-me ao constatar que há muita gente convencida de que é possível escrever sem ler. O primeiro conselho que se deve dar a quem quer escrever é que deve ler muito. Um autor que não tenha lido os grandes clássicos, que não tenha aprendido com o que foi sendo feito ao longo da história da literatura, nunca escreverá bem. Pode haver um génio, um caso ou outro, mas em regra é uma impossibilidade.
Nota um decréscimo de qualidade dos originais?
Recebem-se hoje mais originais, mas os textos são piores. Percebe-se que os autores leram pouco e, sobretudo, que viram muita televisão. Alguns manuscritos são uma espécie de guiões. Não são romances. As pessoas têm prazer e vontade de partilhar o que fazem com os seus amigos e isso explica o êxito de pseudoeditoras que publicam aquilo que o autor, entre aspas, lhes entrega, até porque é o próprio quem paga a edição. Depois, há casos em que o marketing é automático. Basta ser o livro de alguém que esteja presente na casa das pessoas.
José Rodrigues dos Santos?
Por exemplo. Mas não é caso único.
Há uns anos, professores e livreiros eram os grandes prescritores de livros.
Os professores continuam a ter um papel importante nas camadas mais jovens. Os livreiros, infelizmente, estão a desaparecer. O livreiro-prescritor, aquele que sabia da poda, pertence quase ao passado.
A crítica e a divulgação na imprensa ainda pesam?
Já muito pouco. Tempos houve em que os leitores iam à livraria pedir o livro recomendado por um jornal ou por um crítico. Por vezes, levavam até o recorte do jornal. Hoje não é assim. A crítica tem uma importância muito relativa, funciona em circuito muito fechado. É mais importante uma entrevista, divulga mais e melhor um autor.
Cresce a importância das redes sociais.
E cada vez mais. Por isso, as editoras têm departamentos dedicados às redes sociais. É um trabalho muito importante, sobretudo em países como Portugal, onde a rede de livrarias é fraca. Em França, por exemplo, a rede de livrarias independentes é muito forte e tem resistido até hoje.
A venda de livros em supermercados é um fenómeno português?
Sim. Na Espanha e na França, os livros vendem-se nas livrarias. Em Portugal, 75 a 80
por cento das vendas são feitas nos supermercados, nas lojas Fnac e nas Bertrand. Quer dizer, um editor que tenha alguém que contacte estes três compradores não precisa de se preocupar mais. Três reuniões fazem o trabalho de venda. Outra enorme diferença em relação ao que era.
As feiras do livro são importantes?
Têm uma enorme importância, sobretudo porque permitem aos leitores tomar contacto com os fundos das editoras, cada vez mais difícil de encontrar nas livrarias
E os festivais literários?
Não tenho nada contra, pelo contrário. Tudo aquilo que aproxime os livros e os autores do grande público é louvável e positivo.
Fora do mercado de massas, o que faz de um livro «difícil» um êxito?
Essa é a pergunta para um milhão. Neste momento, assistimos a um fenómeno muito curioso: o sucesso de Elena Ferrante. A autora foi publicada há uns dez ou quinze anos pela D. Quixote e, nessa altura, foi um silêncio absoluto, não vendeu. Agora, na Relógio d’Água (que tem aquele que considero o melhor catálogo da edição portuguesa) está a ter um sucesso enorme. Porquê? Explicar o êxito é muito complicado. Há nesta atividade uma grande dose de imprevisibilidade. As fracas vendas de um livro de certo autor não significam que um outro livro do mesmo autor se venda mal.
Qual deve ser a relação de um editor com o seu autor?
Tem de ser boa, não tem de ser íntima. Há casos em que um autor se transforma num grande amigo, casos em que não. Tem também de ser uma relação de mútua confiança.
Autor e editor devem ser capazes de discutir de maneira leal e franca os problemas.
Uma discussão de igual para igual?
Sem hierarquia. O editor não pode ser o dono, o apoderado do autor – esse é o papel dos agentes literários –, mas o autor também não pode, em nome da sua autoria, ser uma espécie de ditador face ao editor.
Há muitas prima-donas?
Há e é natural. A criação artística é muito individual, muito isolada, um livro obriga a um trabalho longo e árduo, e, portanto, é natural que o autor, pensando que produziu a melhor obra do mundo, exija ao editor um comportamento correspondente. Sabemos que não pode ser assim.
Como se explica isso a um autor?
É muito complicado. O autor tem tendência a achar que a editora vive para os seus livros. Nesse sentido, o editor tem de ser também um relações-públicas. Por um lado, percebendo o ego do autor; por outro, não o deixando abusar. Não é um trabalho fácil.
Já teve experiências difíceis?
Algumas. Mas os autores não são o pior.
O que é o pior?
O pior é o stress desta atividade. Há quem pense que ser editor é um trabalho porreiro, em que se passa o tempo a ler. Engana-se. Muitas vezes, as leituras fazem-se em casa, à noite, fora das horas de trabalho. Porque o editor é também um gestor. E, portanto, tem de preocupar-se com todas as componentes de um processo quase fabril. Se o autor entrega a horas, se o tradutor é de confiança, se a capa está como deve estar. Preocupar-se com a comercialização, com o marketing, com a publicidade.
Ficou amigo de muitos escritores?
Posso gabar-me de ser ou de ter sido – alguns já desapareceram – amigo de 99,9 por cento dos autores que publiquei.
Fale-me das relações mais marcantes.
Não falarei dos vivos. Mas recordo com muita saudade, por exemplo, o João Aguiar e a Rosa Lobato de Faria.
Já passou por desilusões?
Algumas. Há pessoas tenebrosas que escreveram obras maravilhosas.
Convida autores para sua casa?
Visitas regulares, não. Até porque alguns deles vivem no estrangeiro. Mas têm passado por minha casa muitos autores, portugueses e não só. Alguns já lá apanharam grandes bebedeiras. Lembro-me do Paul Auster. Franzino como sou, desci as escadas de minha casa a ampará-lo, corpulento como ele é, para o meter num táxi.
Tem seguramente livros com dedicatórias especiais.
Aquela que guardo com mais carinho é do João Cabral de Melo Neto, nos anos 1960, quando veio a Portugal a peça Morte e Vida Severina. Era o Chico Buarque um menino.
E fotografias especiais?
Tenho muitas, mas podia ter muitas mais. Esqueço-me sempre de registar certos momentos para a posteridade [ri-se].
Hoje, um editor não pode ser poupado à visão empresarial. É preciso publicar o que vende para poder publicar o que não vende. Qual é a linha vermelha?
A linha vermelha é o lixo. Nos meus 30 anos de editor, creio que nunca publiquei aquilo a que se possa chamar lixo. Publiquei muita coisa comercial – e, de uma determinada maneira, não tenho nada contra uma literatura mais comercial, desde que não seja lixo. Não podemos recusar as consequências do processo democrático. Temos hoje a ler milhões de pessoas não liam. E não podemos exigir-lhes que escolham Saramago ou Shakespeare.
Mudaram os leitores, mudou a atitude em relação ao livro. Os jovens, por exemplo, preferem hoje leituras mais curtas, rápidas, fragmentadas?
Há de tudo. Quantitativamente, o núcleo de leitores é o mesmo. É um erro dizer que os mais jovens não leem. Como é mentira dizer que dantes todos liam. No passado, havia uma elite que lia, hoje há um público alargado democraticamente, mas, se calhar, os que leem continuam a ser uma elite. Temos de nos perguntar se a atividade de fruição artística não será gozo de uma minoria, quaisquer que sejam as condições sociais e políticas. Porque nos confrontamos com isto: um estádio de futebol leva 60 mil pessoas e um livro custa mais ou menos o preço de um bilhete. Se vendêssemos 60 mil exemplares de cada livro que publicamos estávamos milionários. Em Portugal, lê-se pouco e somos poucos.
Em setembro, vão entrar no 1º ano apenas 80 mil crianças. Más notícias para os editores, em particular para a Porto Editora, líder no segmento do livro escolar.
É verdade. É uma situação preocupante. Como dizia, somos poucos. E o mercado continua a retrair. Com tão pouca população, só viveríamos confortavelmente se tivéssemos um elevado grau de literacia. Como a Holanda, por exemplo.
Qual é o futuro do livro físico?
Estou convencido de que vai sobreviver. Tendo mesmo a concordar com Umberto Eco, que sobre o livro digital dizia tratar-se de uma moda. De facto, depois de uma subida constante na França e na Espanha, o crescimento parou. Em Portugal, o livro digital é insignificante.
E das livrarias?
É um futuro negro. O problema resolver-se-ia se aumentasse o número de leitores.
Nestes anos de crise, nesta fase convulsa, os profissionais do setor têm estado concertados?
Estamos perante uma situação típica dos mercados pequenos: salve-se quem puder.
Não há uma ética entre os editores e as editoras?
Há um grande individualismo, que é típico dos mercados aflitos. Os mercados aflitos recorrem a todos os expedientes.
É casado com Maria do Rosário Pedreira, a mais mediática editora portuguesa, responsável editorial num grupo rival. Como gerem essa circunstância?
Costumo dizer que tenho a particularidade de dormir com o «inimigo». É uma gestão tranquila e sem problemas. Falamos, é claro, de trabalho, dos livros que lemos, de pequenos episódios da vida profisisonal. Quando tem que ver com decisões mais profundas ou estratégicas de uma das nossas casas, nada é conversado.
Correm o risco de frequentar as mesmas feiras. Como tem medo de andar de avião, a Maria do Rosário acompanha-o nas viagens de carro por essa Europa?
Não é bem medo de andar de avião. Sou, sim, profundamente claustrofóbico, estado que se desenvolveu por volta dos meus 40 anos. E, portanto, tornei-me especialista em atravessar a Europa de comboio ou automóvel.
São célebres as viagens à Feira do Livro de Frankfurt.
São sempre viagens divertidíssimas e que me deram em tempos honras de primeira página. Há uns anos, o [jornal] Frankfurter Allgemeine Zeitung tinha na primeira página, sobre a feira, qualquer coisa como«a Feira é tão importante que fulano de tal, editor português, vem de comboio, de Lisboa, todos os anos». Em certa medida, criou-se uma lenda.
Depois de tantos anos de um catálogo editorial de referência, há alguma publicação de que se orgulhe em particular?
A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera.
O sucesso do livro foi uma surpresa?
É uma história engraçada. Nesse tempo não havia ainda e-mail. Nem fax, acho eu. A D. Quixote tinha em Paris uma espécie de scouter, um senhor sueco que de vez em quando escrevia a dar conta do que se passava no mundo editorial francês. Um dia, recebo uma carta dele a falar-nos de um jovem escritor checo, exilado em Paris e a fazer grande sucesso com um livro, da Gallimard. Pedimo-lo à editora, e lá veio, pelo correio. Li-o e achei-o maravilhoso. Publicámos A Insustentável Leveza do Ser em 1982. Tenho a certeza de que alterou a cabeça das pessoas.
Em 2008, sai da Leya. Foi difícil?
Foi um momento muito forte para mim. Fazia todo o sentido que eu estivesse na Leya. Estava lá toda a minha vida profissional – a D. Quixote (de 1981 a 1991) e as Edições Asa (de 1991 a 2008). Mas houve coisas de que não gostei e trabalho com o qual não me identifiquei. Provavelmente, precipitei-me, provavelmente a Leya precipitou-se, e aconteceu o que o destino tinha preparado. Mas fui compensado com o convite da Porto Editora. Depois de um grupo considerar que eu já não tinha idade para compreender os novos mecanismos da vida editorial, vir um outro grupo, tão ou mais forte, confiar- me uma parte importante do seu trabalho é algo de que me orgulho muito e pelo qual estou penhorado e agradecido.
E leva consigo Saramago, o que recentemente deu origem a uma polémica com Zeferino Coelho, da Caminho.
Sobre isso, tudo o que havia a dizer foi dito. No caso Saramago, o meu papel foi insignificante – contactado pelos herdeiros, limitei-me a intermediar uma negociação que foi difícil, mas que trouxe vantagens para os dois lados. E é um orgulho ter Saramago (de quem fui amigo) no nosso catálogo.
Os livros ainda têm segredos ?
São como as mulheres. Têm sempre algum segredo.
Como funciona sob pressão?
Mal. Funciono mal com a pressão e com o e-mail. Não gosto de ler no ecrã. A relação não se estabelece e os editores, os que me conhecem melhor, sabem que têm mesmo de me mandar o livro.
As primeiras memórias de livros?
São memórias muito profundas e antigas. Não nasci numa casa onde se lesse muito, havia apenas meia dúzia de livros. Mas os meus dois avôs eram grandes leitores e tinham muitos livros. O avô materno, porque era licenciado em Económico-Financeiras, e o paterno, porque, tendo apenas a 4ª classe, vinha da aristocracia operária, fora carbonário, era maçom, e tinha uma biblioteca fantástica de literatura portuguesa. Por isso, desde pequeno, li muito e indiscriminadamente. Com 12, 13 anos, trouxe da biblioteca do meu avô materno o Dostoiévski. Li tudo. Um pouco mais velho, fui um leitor compulsivo de livros policiais, curiosamente da coleção Vampiro.
Curiosamente, suponho, porque é a coleção que está a relançar no mercado.
Sim, um velho sonho. Tornei-me leitor compulsivo com a coleção Vampiro. Por vezes, lia dois por dia.
Que criança era essa?
Uma criança normal da classe média baixa, o meu pai trabalhava com o meu avô, que era despachante dos caminhos-de-ferro, a minha mãe era doméstica. Um menino que adorava jogar à bola, que brincava às corridas de caricas, que colecionava miniaturas de automóveis, os Dinky Toys. Um miúdo franzino, mas não tanto como hoje.
E que sonhava ser?
Queria ser advogado. Desde muito pequeno que se dizia «o menino tem muito jeito para falar, tem de ir para Direito». Com o meu irmão mais novo, fazia campeonatos do mundo de hóquei em patins. E no final, na entrega das taças, contava a minha mãe que os meus discursos eram tão inflamados que ele, mais novo cinco anos, chorava como uma Madalena. A minha vocação falhada é de parlamentar. A certa altura quis ser inspetor da PJ ou diplomata, mas, tendo feito cedo a minha formação ideológica, num regime ditatorial não podia ser uma coisa nem outra. Fui então para Direito, demorei sete anos a licenciar-me e estava disposto a ser advogado. Mas regressei de Angola e do serviço militar 15 dias antes do 25 de Abril. Foi uma loucura. Interessei-me pela política, pelo jornalismo e nunca mais pensei no curso. Depois, vim para a edição.
Em miúdo, começa também a paixão pelo Futebol Clube do Porto.
Era um adolescente maluquinho pelo FCP. Recordo-me de assistir, com o meu pai, ao jogo inaugural do Estádio das Antas. Maluquinho pelo FC Porto e por namoricos.
Ser bem-falante ajudava.
Muito, era fácil cantar o fado do bandido às raparigas. Eu aquele rapaz a quem as mães confiavam as filhas. Tinha fama de ser um tipo bem-comportado…
E a escrita?
Começa muito cedo. Durante a escola primária, escrevi uma História de Portugal que a minha mãe guardou por muitos anos. Claro que era toda copiada dos grossos volumes da História de Portugal do Damião Peres (dita «de Barcelos») que o meu avô tinha em casa. A poesia começou mais tarde, por volta do 5º ano do liceu. Se bem me lembro, com a descoberta de José Gomes Ferreira, um poeta hoje muito esquecido.
Depois de vários anos sem publicar, sai em 2015 a antologia Poesia Reunida – O Pouco Que Sobrou de quase nada. Disse nessa altura: «A entrega aos livros dos outros secou a minha criação.»
Nunca procurei a poesia. A poesia é que de vez em quando me procurava. Mas para que isso acontecesse era necessário uma grande disponibilidade mental. Depois de 1981, a minha cabeça foi-se enchendo com as vozes dos outros. De resto, sempre tive um lema: entre a arte a vida, escolho a vida. Entenda-se por vida amar uma mulher ou ir jantar com amigos. E sempre fui preguiçoso.
As mulheres, sempre as mulheres.
As mulheres foram sempre o mais importante na minha vida.
Escreveu sempre poesia lírica?
O Eduardo Prado Coelho escreveu que a minha poesia conjugava amor e liberdade. Concordo. Foi sempre lírica, e ao mesmo tempo um canto de liberdade. Sobretudo antes do 25 de Abril, quando a poesia era uma forma de resistência e de combate.
Fez tropa em Angola. Não pensou em exilar-se?
Não sendo militante comunista, era muito influenciado pelas posições do PCP, que entendia que era importante ficar e minar o regime por dentro. Foi isso que aconteceu.
Angola.
Angola foi uma experiência muito marcante. Não uma experiência de guerra – estive sempre em Luanda, na chefia dos serviços de justiça – mas pessoal. A sociedade civil pressentia que algo iria acontecer e, portanto, passou a valer tudo, havia que aproveitar enquanto houvesse tempo. Tive uma experiência cultural rica, fiz teatro, encenei peças e vivi uma experiência erótica e sentimental que me transformou. A liberdade sexual era total. Vivia num paraíso.
Porto e Coimbra.
O Porto daquele tempo – onde vivi até aos 17 anos – era uma cidade de província. Coimbra tinha um ambiente fantástico. Não apanhei as crises académicas de 1961 e de 1969, mas nos três anos que lá vivi deparei-me com um ambiente de grande fraternidade e cumplicidade. Procuro não ser «coimbrinha», mas aquela cidade, de facto, marca.
Como chega à edição?
Por um acaso político, que é a morte de Sá Carneiro. Se Sá Carneiro não tivesse morrido naquele desastre de aviação, e com ele Snu, o mais certo era ser hoje advogado. A família de Snu Abecassis, proprietária da D. Quixote, vendeu a editora a Nelson de Matos, um grande amigo, que me convidou para diretor editorial. E aí vim eu do Porto para Lisboa. No mês de Outubro seguinte, fui à minha primeira Feira de Frankfurt.
Que livro gostaria de publicar?
Os livros importantes estão todos publicados. Não há grandes obras na gaveta. Histórias de escritores fantásticos que não encontram editor são só isso, histórias, mitos, lendas.
Recomendação de um livro.
Não sei se sei recomendar um livro a um jovem de hoje. Uma coisa recomendo: leiam, leiam, leiam. E sobretudo os grandes clássicos, os do século xix, mas também os do século xx.
Que livros tem neste momento na mesa-de-cabeceira?
Tenho vários. Acredito na tese de Umberto Eco: durante a noite, os livros entram-nos por osmose. Neste exato momento, estou a reler, 50 anos depois, o primeiro título republicado da coleção Vampiro: Os Crimes do Bispo, de S. S. Van Dine. Em miúdo ou agora, o entusiasmo é o mesmo.
Um autorretrato numa só frase.
Sou um adolescente adiado.

Seguir no Twitter José Afonso Furtado é uma vertigem

E, muitas vezes, uma alegria. Baptizado de «o Borges do Twitter» (salvo erro pela Time) é absolutamente torrencial a informação que diariamente ele torna acessível. Furtado basicamente é aqui um distribuidor de jogo - vê artigos interessantes e, generosamente, partilha-os. Não trata a informação, ou melhor, trata-a mas só nos seus próprios artigos e livros. Aqqui apenas no-la passa, crua. Tratemo-la nós - à que nos interessar.

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